Estamos diante de uma narrativa plenamente construída sobre metáforas. De certa maneira, por estar estruturada sobre este formato e por não conter datas, "Sinfonia para vagabundos" nos é contemporâneo, mais de três décadas desde sua primeira publicação. Ainda assim, vamos tomar alguns referencias temporais do texto, denunciando a data das do mundo ao redor do autor e quais críticas traziam em si. Mas o definitivo está naquilo que, sob uma leitura simplista, para alguns poderia se tratar apenas de uma alegoria acerca das histerias da vida nas metrópoles, ou simplória crítica às alienantes estruturas capitalistas. Os suicidas. Aos muitos, aos montes e aos monturos, com despedidas bastante específicas. Estão lá os “industriais falidos”, a frase de Natalício a Virgínia “todos os comerciários decidiram se matar”, “desempregado”, a “palavra-chave fome”, “podridão”. Não seria uma Recife qualquer a nos trazer essas possibilidades, afinal não seria um Brasil qualquer em tamanha convulsão. É o Brasil do confisco das poupanças pelo governo Collor, em 16 de março de 1990. É este um dos alvos da crítica, é este o arauto das misérias recifenses, pernambucanas, nordestinas, brasileiras, expostas nos solos de sax desta Sinfonia. A alegoria final da narrativa: Natalício carregando o menino morto, baleado no rosto, encontrado no lixo, pelas ruas de Recife, enquanto um mundo imparável atiraria esmolas – aos médios sempre bastarão as esmolas, os farelos, os restos, as sobras, diante da miséria, diante da morte, diante de uma criança com um tiro na cara, o dinheiro nos valha, valha-nos “las platitas, bacanito”, em cruzeiros e reais – segue sendo a silenciosa metáfora de um Brasil encarcerado às molduras do bom-mocismo e do homem cordial. Salve Raimundo Carrero, o Último Armorial! [Thiago Medeiros]
Sinfonia para vagabundos
Ficha técnica
SKU / ISBN: 9786585758000
Título: SINFONIA PARA VAGABUNDOS : visões em preto e branco para sax tenor
Autor: Raimundo Carrero
Selo editorial: OIA
Categoria: Romance contemporâneo
Tipo de Narração: Armorial urbano
Coleção: Ceifa Sangrenta em Campo de Batalha
Idioma: Português-brasileiro
Páginas: 184
Idade de Leitura: 14
Dimensões: 14 x 1 x 21 cm
Publicação: 29.07.23
Brindes: Marca-página e card do livro
Direção editorial: Carlo Benevides
Revisor: Thiago Medeiros
Editor: Thiago Medeiros
Capista: Carlo Benevides
Diagramador: Carlo Benevides
Ilustradora: Hallina BeltrãoMINIBIO
Raimundo Carrero nasceu em dezembro de 1947 na cidade de Salgueiro, sertão de Pernambuco, e é um dos autores mais premiados do Brasil. Conquistou os prêmios Jabuti em 2000; Prêmio São Paulo em 2010; o prêmio APCA em 1995 e 2015; o Machado de Assis em 1995 e 2010; Prêmio Revelação do ano, em 1997, da Secretaria Estadual de Cultura do Rio Grande do Sul; prêmio José Condé em 1984; e prêmio Lucilo Varejão em 1986 etc.
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"Estamos diante de uma narrativa plenamente construída sobre metáforas". Uma obra magnífica.