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UM PAÍS INTEIRO ENTRE AS CAPAS DE UM LIVRO

Atualizado: 2 de set. de 2023


Mário Rodrigues

leitura de VIAGEM NO VENTRE DA BALEIA

Texto do escritor Mário Rodrigues



“E a boa qualidade das terras do Nordeste brasileiro para a lavoura altamente lucrativa da cana-de-açúcar fez com que essas terras se tornassem o cenário onde, por muito tempo, se elaboraria em seus traços mais nítidos o tipo de organização agrária mais tarde característico das colônias europeias situadas na zona tórrida. A abundância de terras férteis e ainda mal desbravadas fez com que a grande propriedade rural se tornasse, aqui, a verdadeira unidade de produção. Cumpria apenas resolver o problema do trabalho. E verificou-se, frustradas as primeiras tentativas de emprego do braço indígena, que o recurso mais fácil estaria na introdução de escravos africanos.”
(Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil)

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No ano de 1986, Raimundo Carrero publica seu melhor romance: Viagem no ventre da baleia.

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Paradoxalmente, é a menos conhecida de suas obras. Todavia, nesses quase 40 anos de intervalo desde o lançamento, o romance (que venceu o tempo) assoma com uma atualidade de assustar aqueles que ignoram o caminho tortuoso da boa literatura. Mas, ao mesmo tempo, tal atualidade encanta aqueles que conhecem o poder imorredouro e cíclico da arte literária.

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“Você sabe que os monstros vermelhos, anunciadores de doutrinas estranhas ao nosso povo, quiseram tomar conta da pátria (...) O povo, porém, correu aos quartéis e implorou pela nossa ajuda.”

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Imaginemos, então, um país.

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Sabe esses grandes proprietários de terra movidos à truculência, atrabiliários, e que exploram de maneira análoga à escravidão os que trabalham em suas terras? Sabe esses grandes latifundiários que nunca compraram um palmo de terra, cuja riqueza é fruto de grilagem ou tomada de posse em épocas imperiais e coloniais, no chamego das sesmarias? Tudo calcado em chacinas de povos originários e de quilombolas... Sabe a religião eivando o debate político desde sempre e o contaminando com tudo aquilo que a religiosidade tem de sectária e mística?

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Sabe a esquerda um tanto desorganizada, desconfigurada, sem rosto ou multifacetada por rostos irreconhecíveis? Sabe a esquerda que caminha sempre na bifurcação entre se portar como, de fato, revolucionária ou ser uma oposição limpinha e inocente no jogo político? Você sabe as relações familiares turvas, confusas, espúrias ou dinastias podres? A hipocrisia dos cidadãos de bem camuflada por inúmeros estupros, traições e bastardos? Se você acha que isso é um retrato do Brasil de hoje, você está enganado. Este é o Brasil de sempre. De sempre.

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É este país que avulta entre as páginas deste Viagem no ventre da baleia. Livro inesquecível.

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Apenas um ano depois da redemocratização, Raimundo Carrero se lança numa daquelas empreitadas que mais desafiam a todo escritor. Fazer um painel múltiplo de seu povo e de seu país. Um romance de ideias.

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“Por que não iniciamos a grande e iluminadora História de que este país necessita e reclama?”

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É um risco sem dúvida. Em todas as vezes que a questão fundiária foi debatida a sério no Brasil, a sociedade e suas elites se ouriçaram. Golpes foram dados. Mas não há escritor (de verdade) sem os riscos, os abismos.

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O primeiro deles: cristalizar, em letras, esse país que éramos e somos (e talvez seremos para sempre). Este livro é um espelho (e caleidoscópio) da nossa realidade histórica tão perversa, tão má. Presenteado por um dos nossos maiores mestres da narrativa.

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Esta é a história de uma guerrilha fictícia engajada em pleno sertão pernambucano. Numa pequena comunidade rural, Jatinã, o coronel Salvador Barros e seus moradores fizeram suas vidas, estes sobretudo trabalhando no regime de meia. Em poucas linhas, o romance nos oferece o ciclo ancestral da luta pela terra e da luta pela permanência nela – faz, portanto, um dos diagnósticos principais do atraso brasileiro.

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O coronel é o chefe municipal, assim possui ascendência sobre o voto de seus moradores (o voto de cabresto). Essa força eleitoral lhe dá prestígio político, o que alimenta seu poderio econômico. Poderio nascido de sua condição social de dono de terras. Dentro dessa bolha, a figura do coronel substitui todas as demais instituições sociais. No cerne dessa jurisdição, sua figura assume o papel de legislador e de juiz, o papel da polícia e do executivo. Com o auxílio de capangas e jagunços, desincumbe seus arbitramentos.

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Essa figura – Salvador Barros –, naquilo que tem de epítome histórico, é o resumo de toda a elite agrária brasileira: truculenta, inculta, tacanha, bélica, beligerante. Essa figura é brilhantemente desenhada aos nossos olhos por Carrero. Sua ascensão social resulta muito naturalmente da sua condição como proprietário rural. A massa humana que tira a subsistência das suas terras vive no mais lamentável estado de pobreza, ignorância e abandono. Diante dela, o “coronel” é rico. E faz o que quer. A justiça nunca chegará por ali.

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“Porque a Justiça é apenas um nome estranho e diabólico.”

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Salvador Barros, ciente empiricamente disso tudo, resolve desalojar os moradores de Jatinã e acabar com todo o seu meio de vida, com suas histórias, com suas próprias existências ontologicamente falando. Não há tempo/lugar para onde ir; os moradores, sem noção nenhuma de sua dimensão histórica/geográfica, tentam se ater ao pouco que conquistaram.

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Aqui Carrero mostra seu lastro: o próprio coronel Salvador Barros, assim como acontece com os latifundiários históricos brasileiros, tomou também em tempos idos aquelas terras de assalto. Caducando, assim, qualquer discussão sobre legitimidade, meritocracia. Os moradores de Jatinã resolvem reagir. Não irão acatar a ordem de despejo do coronel. Querem lutar por suas terras. Por seu lugar. Por suas vidas. Cria-se a tensão. Insustentável.

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Em 1850, a Lei de Terras foi aprovada no Brasil. Trinta anos depois da Independência, era necessário (segundo as elites) domar as questões agrárias no Brasil. Durante trezentos anos, a ocupação das terras brasileiras foi um verdadeiro caos, anárquica. Mas agora, com a aproximação inexorável do fim da escravidão, era urgente acabar com as possibilidades de negros libertos e de homens pardos ocuparem suas próprias terras. Era preciso dificultar esse acesso. Vetar o espaço para os futuros homens livres.

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Era preciso uma lei para evitar a ocupação das terras. Como já disseram: Quando a terra era livre, o negro era escravo. Quando o negro ficou livre, a terra se tornou escrava.

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Grandes proprietários e seus clãs continuaram se matando por hectares. Sem maquinário moderno, o tamanho da propriedade rural era vital (e ainda é) para seus propósitos. O povo, excluído da posse agrária – mas se debatendo nessa realidade –, fará do Brasil o campo mais injusto do mundo. A posse da terra é, dessa forma, a constituição, o exercício e a manutenção do poder total de uma elite abestalhada e cruel.

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Este livro (atualíssimo, mesmo depois de quase quatro décadas de escrito) resume e lança luz sobre tudo isso. E aponta para o redirecionamento do debate histórico acerca do problema fundiário no país. É essencial recuperar a importância dos atores decisivos nesse equacionamento: Povo e Estado – em seus três âmbitos.

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“Ele está seguro do grande amor que temos por este País.”

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Há quinhentos anos, essa discussão é relevada a planos subalternos. Viagem no ventre da baleia aponta que – sem o impacto da mudança na estrutura fundiária, na configuração do poder político, na natureza do Estado, no papel da lei, na consciência coletiva do homem do campo e na abrangência da institucionalidade democrática – não haverá país. Não haverá plena democracia, enquanto alguns poucos coronéis dizimarem o destino de inúmeras famílias. Este livro atravessa o tempo. É o seu próprio tempo.

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Há outra dimensão, porém, onde Raimundo Carrero se arrisca. A dimensão humana.

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“O senhor, professor, acaba de me dar uma grande lição: um escritor não deve jamais mentir.”

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Nesse ponto de tensão sobre a posse da terra, três personagens aparecem. Jonas, Miguel e o padre Paulo.

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Excluindo o livro O senhor agora vai mudar de corpo (2015), este Viagem no ventre da baleia é o mais autobiográfico dos romances de Carrero.

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Dispostas no livro, estão algumas de suas vivências mais específicas: o trânsito entre Salgueiro (sertão de Pernambuco) e Recife (capital do estado). Seu primeiro contato com a literatura, lendo livros que chegavam pelo reembolso postal. Suas primeiras produções, peças teatrais. O gosto pela música, sendo ele mesmo um músico, saxofonista no grupo Os tártaros. O duelo com a escrita. A luta verbal.

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Mas sua alma e sua dicção é que são entregues de forma tripartida nesta obra. Para abarcar a amplitude do tema, Carrero se debruça com paixão sobre sua própria amplitude humana. Embora o romance seja narrado em boa parte em terceira pessoa, por um narrador onisciente (há algumas entradas em que Salvador Barros narra num fluxo de consciência sua própria história), o escritor, por trás do narrador, se apresenta naquelas três figuras atormentadas cada qual à sua maneira – porque incompletas, mas ao mesmo tempo complementares.

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Imaginemos, então, o humano.

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Observemos as figuras desses três: Jonas, Miguel e Paulo. Há uma pista falsa nesses intertextos que são os nomes dos personagens.

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Aqui, Jonas não é o que foge da sua designação, pelo contrário quer cumpri-la até ao final. Aqui, Miguel não é o arcanjo, o anjo guerreiro; Miguel quer conciliação e saída pacíficas. Aqui, padre Paulo não é fariseu nem apóstolo, é ponto de liame entre as duas personagens anteriores – é ainda o homem cego e impotente, ao chão, no caminho empoeirado para Damasco.

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Num mundo caótico, os personagens e suas histórias só poderiam ser caóticos. E seus nomes cindidos e antagônicos dão conta da complexidade social e humana do romance. Nesta narrativa não há espaço para maniqueísmos.

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“O revólver já não suporta o silêncio das balas.”

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Miguel: ex-guerrilheiro urbano, forjado na religiosidade, escolhe ser o pacificador. Entende as demandas dos moradores de Jatinã como justas, mas não vê com bons olhos a resistência armada. Julga ser apenas nascedouro de mais mortes e tragédias. Acredita no poder da articulação social e política, nos colegiados. Acredita ainda nas instituições, mesmo as entendendo como lentas e falhas. Ele é quem tenta demover Jonas da atitude de arregimentar homens e organizar resistência, à bala e à faca, contra os avanços do coronel.

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Jonas: ex-guerrilheiro urbano, forjado na religiosidade, escolhe ser o lutador. Está cansado de injustiças. O Dragão, que o acompanha desde a mais tenra infância, quando assistiu à morte sacrificial do pai e à humilhação da família, deve ser enfrentado afinal. Incrédulo das coisas deste mundo, de suas instituições e de seus homens poderosos, torna-se, ele mesmo, um sujeito que é dono de sua própria hermenêutica e exegese bíblica. Dispõe-se às armas. Jonas quer ser regurgitado pela baleia, que é a vida, não para apenas levar a possibilidade do perdão aos pecadores, mas, exclusivamente, deseja levar a sentença de morte.

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Padre Paulo: desde a Idade Média até a Revolução Francesa, um homem era ungido e consagrado rei pelo papa, que inclusive lhe colocava a coroa. Entre outras coisas, o rei teria a graça divina e teria seu próprio ser (corpo e soma) divinizado. No dezembro de 1804, quando tira das mãos do papa Pio VII a coroa e se autodenomina imperador, Napoleão Bonaparte reorganiza a ordem das coisas no mundo europeu – por assim dizer nasce o mundo moderno. No interior do Brasil, porém, ainda é forte a marca medieval da religiosidade e da política. Essa reorganização não acontece (e ainda não aconteceu). O senhor das terras (quase feudo) continua a ter seu poder ultrapassando o meramente político. Os grandes clãs fundiários são vistos como especiais, de outra estirpe. Por isso, a Igreja sempre se manteve condescendente, quando não apoiadora, no que concerne a esses senhores (excluindo alguns poucos padres que tentaram, qual pequenos napoleões, remover a coroa e o cetro; sem sucesso, diga-se). Padre Paulo é a personificação desse dilema eclesiástico e de sua tibieza secular.

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A história desses três homens é alinhavada pela bestialidade de Salvador Barros. Peguemos três sentidos atribuídos à violência: a) ato de força contra a liberdade e a espontaneidade de alguém; b) uso da força contra a natureza de alguém (desnaturalizar, coisificar); c) conspurcar a natureza de alguém (violar). Em todas essas possibilidades, Salvador Barros leva a violência ao paroxismo. Nascido dentro do próprio redemoinho de truculências, o coronel é feroz por natureza. Não alguém que ostenta a ruindade, mas alguém que a personifica.

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“Os capitalistas e os latifundiários é que nos fazem acreditar nisso. Criam medo e até pânico.”

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Nesse sentido, Salvador Barros é a metáfora perfeita do Brasil. Esta nação nascida do próprio líquido amniótico da barbaridade e que fez dela sua política e sua razão de ser. E nesse processo trucidou homens naquilo que eles tinham de políticas, de forças, de covardias e de religiosidades – ou seu arcabouço de crenças em geral. Esta nação que, graças às engrenagens de poder que moem a sociedade brasileira há séculos, substituiu (substitui) a crença pelo niilismo, a luta pela resiliência e o amor pela loucura.

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Na tradição bíblica: ao sair do ventre da baleia, Jonas cumpre seu papel de profeta e leva ao povo de Nínive a mensagem de salvação e depuração. Ao enfrentar o Dragão, Miguel o expulsa dos céus para baixo à Terra. Recuperado de sua cegueira momentânea, Paulo, agora apóstolo, sistematiza o cristianismo. Mas não aqui neste livro. Não aqui neste país dono de sua própria teogonia agônica. Aqui os homens saem sempre derrotados.

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“Por isso os humilhados de todo o mundo permanecem sempre ofendidos e pacíficos.”

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Este livro, porém, é o lembrete de que ainda há debate possível. Os 350 anos de escravidão e o genocídio dos povos originários, quase silenciados ao longo de nossa história, criaram uma mentalidade de castas. Onde alguns eleitos decidem tudo enquanto a grande massa não decide nada. Durante séculos, houve silêncio e asfixia social motivados por uma estrutura agrária genocida e por uma concentração de renda imoral. Este Viagem no ventre da baleia – com toda a maestria de um dos maiores escritores brasileiros – chama a sociedade para um debate atual e necessário. Este romance grita, pois é baseado não em esquemas fáceis de maniqueísmo infantis e panfletários, mas naquilo que há de mais intrínseco no homem e em tudo aquilo de que ele é feito: de sangue, de terra e de fé.

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“Escrever não é um ato de revolta

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“E não hei de ter eu compaixão da grande cidade (...) em que há (...) pessoas que não sabem discernir entre a sua mão direita e a esquerda, e também muito gado?”
(Palavras finais, Livro de Jonas)
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