sobre EU TALVEZ DESEJASSE MATAR POETAS
Textos do Autor
Gosto da ideia de literatura que não se confina, não se limita, não se enquadra. Gosto da escrita que faz ligações, que opera relacionações (especialmente se imprevistas, se impensadas). Gosto da ideia da escrita como investigação (em seu sentido mais antigo), como experimentação. Ainda que, e mesmo se, isso leve a pequenas falsificações. Ou falsificções – seria um bom termo?, alguém já lhe terá dado batismo? Gosto da maliciosa arte de certas violações (às delimitações, às cercas dos gêneros, a toda e qualquer de-finição).
E houve uma mulher e sua emparedada solidão, e houve um homem que se fez ao mar e distantes terras pra se achar (terá?), e houve uma encantada que criou um ignoto mundo, e houve uma morte tramando a insondável vida das pessoas, e houve um mistério nos CEO’s da literatura, e houve aquele que se perdeu... Que será tudo isto que este corpo de palavras – livro lhe dizemos – leva dentro?
“Não existe a acção de tornar híbrido um texto. Um texto é naturalmente híbrido. A linguagem mistura espontaneamente. Ficção é ensaio, ensaio é ficção e o inverso e etc.”
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“um sítio que não tem nome de mapa: a literatura.”
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(Gonçalo M. Tavares, Breves notas sobre literatura-Bloom)
ATO CONFESSIONAL
A linguagem nunca dá resto zero, como numa operação matemática; foi o que disse um certo senhor; nela, há sempre o que possivelmente se possa dizer depois de se dizer, há sempre algum esporo pronto a rebentar, alguma proliferação latente. Há sempre um resto diferente de zero, um resto que possibilita novos começos, outros princípios.
Assim como esse dito senhor, gosto da ideia de literatura que não se confina, não se limita, não se enquadra. Gosto da escrita que faz ligações, que opera relacionações (especialmente se imprevistas, se impensadas). Gosto da ideia da escrita como investigação (em seu sentido mais antigo), como experimentação. Ainda que, e mesmo se, isso leve a pequenas falsificações. Ou falsificções – seria um bom termo?, alguém já lhe terá dado batismo? Gosto da maliciosa arte de certas violações (às delimitações, às cercas dos gêneros, a toda e qualquer de-finição).
Falsificções: eis estes exercícios. De única responsabilidade de quem os praticou, fique confessado. Tudo (im)pura ficção, fique jurado. Nascida talvez da inquietação (necessária), do incômodo (precisado) diante do real – que não basta, como tanto já se disse.
Pois eis: lavrado está meu ato confessional. A quem usurpei (o que seja), nada peço (que autoridade teria?); tão somente confesso que cada referência é, antes de mais, a minha humilde reverência a quem, por ventura e admiração, tenha usurpado em seus espólios de palavras.
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